Dia 25 de janeiro de 2010 São Paulo comemorou seus 456 anos com muita música. Em diversos pontos da cidade, atrações como Restart, Cine, Negra Li, Leci Brandão,Paula Lima, Milton Nascimento, Toni Garrido entre outros, atraíram multidões para as praças da megatrópole, onde até o sol veio dar o ar da graça antes da chuva banhar a euforia dos fãs.
Mas provando que um bom som não precisa de rótulos para ter público definido, crianças, adolescentes e adultos se reuniram debaixo de chuva em uma tarde de segunda-feira para ver a roqueira Pitty que levou cerca de 15 mil pessoas ao Sesc Interlagos, mesmo a entrada não sendo gratuita como os demais shows apresentados em praça pública.

Entre os sons “das antigas” e alguns sons do novo álbum “Chiaroscuro”, Pitty fez a galera gritar e pular - no mais puro significado da palavra - dentro da lama. A multidão se ergueu num coro invejavelmente entrosado, que fazia os olhos brilharem de tão intenso que era presenciar aquilo.
Tinha de tudo um pouco... Meninas sobre os ombros de amigos tirando suas camisetas, levantando os braços e deixando os seios à amostra para quem quisesse ver - e quem não quisesse também –, até marmanjos brincando dentro das poças de lama, tocando suas guitarras imaginárias ou fumando um baseado.

Pitty arriscava um diálogo com o público entre as trocas de músicas, mas talvez a diversidade de pessoas era tamanha que às vezes ela se perdia nas palavras dizendo apenas “pra que ficar enrolando, se é tão simples o que eu quero dizer? É muito foda estar com vocês, eu adoro tocar em São Paulo!” e completava com “vocês não imaginam como isso tá lindo aqui de cima”.
E como estava sujo lá embaixo…
Era quase um WOODSTOCK, o cenário composto pela loucura desenfreada e não ensaiada de cada pessoa que, ao som pesado, deixava sua máscara cair sob influência dos acordes da guitarra de Martin, do baixo de Joe, a batera de Duda e a voz rouca de Pitty, sentindo a liberdade invadir o sangue em suas veias.
Árvores, lama, cheiros, som, bebida, loucura, cigarros, uma mistura enérgica! Sim, eu tenho que repetir, era quase um WOODSTOCK, exceto pelo sexo ao ar livre que - ainda bem - não chegamos a presenciar.
Em algum momento do show, desliguei a câmera e parei para pensar o que leva tantas pessoas estarem em um mesmo lugar, na mesma freqüência, sob um mesmo céu e sobre uma mesma terra molhada. Olhando ao redor, pessoas distintas, meninas se beijando, tatuagens, piercings, uma senhora com calça de couro e um vinil nas mãos autografado gritando. Todos se identificavam com alguma coisa, fosse com o som pesado, a voz cansada, as roupas pretas, as frases gritadas... Não importa muito o motivo, mas ali todos se sentiam livres para serem apenas eles mesmos.

A música tem esse dom de fazer libertar pessoas transferindo-as de atmosfera e Pitty, por sua vez, fez isto acontecer em uma das melhores apresentações nacionais que já estivemos.
E assim, sob a chuva da tarde paulista, foi encerrado um dos vários shows da capital, no feriado de aniversário de São Paulo.
Dia 23 de maio Pitty se apresenta em Jundiaí na Virada Cultural Paulista 2010. Será que tudo isso vai se repetir? Vale à pena conferir!
Texto e Fotos: Aline Batalia
Edição: Adriane Souza